quais os próximos passos do frigorífico na Bolsa após a dupla listagem

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A JBS (JBSS3) anunciou na sexta-feira (23) a aprovação, em Assembleia Geral Extraordinária (AGE), da estrutura de dupla listagem — com ações primárias na NYSE e BDRs na B3. Às 15h (horário de Brasília), a ação do frigorífico caía 4,07%, a R$ 39,08.

A conclusão da dupla listagem ainda depende de aprovações regulatórias (por exemplo, da NYSE e da B3). As próximas datas relevantes, segundo a empresa, são:

  • 6 de junho – Incorporação de ações e último dia de negociação das ações da JBS na B3. Por meio da “incorporação de ações”, cada ação ordinária JBSS3 será convertida em uma ação resgatável da Brazil HoldCo, que será obrigatoriamente trocada por BDRs da JBS N.V. na proporção de 1:2. Em seguida, a Brazil HoldCo resgatará essas ações e entregará os BDRs.
  • 9 de junho – Primeiro dia de negociação dos BDRs da JBS N.V. na B3.
  • Janela de conversão (data a confirmar) – Detentores dos BDRs da JBS N.V. poderão solicitar a conversão em ações Classe A (até 12 de junho) ou ações Classe B (até 31 de dezembro de 2026).
  • 12 de junho – Primeiro dia de negociação das ações Classe A da JBS N.V. na NYSE.
  • 16 de junho – Pagamento do dividendo intermediário de R$ 1,00 por ação.

Segundo o Itaú BBA, a mudança marca um novo capítulo na tese de investimento da companhia e representa uma alavanca relevante para a geração de valor.

O BBA avalia que a conclusão do processo de dupla listagem pode trazer benefícios relevantes para o frigorífico. Na visão do banco, a operação tende a ampliar o acesso da empresa a uma base maior de investidores e aumentar sua visibilidade no mercado internacional, favorecendo comparações com pares globais.

Além disso, conforme o BBA, o movimento pode proporcionar maior flexibilidade no uso de capital próprio como fonte de financiamento, inclusive por meio de emissões de ações, o que pode contribuir para a redução do custo de capital.

Outro ponto destacado é o fortalecimento da governança corporativa da JBS, que passará a estar sujeita ao escrutínio regulatório da SEC, aumentando a transparência e a credibilidade da companhia junto ao mercado.

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O BBA manteve recomendação de compra e preço-alvo de R$ 51, devido à plataforma diversificada da empresa, que lhe permite navegar por diversos ciclos de proteína e regiões geográficas com volatilidade relativamente baixa.

Saiba mais: Acionistas da JBS (JBSS3) aprovam dupla listagem e ativos têm forte volatilidade

Já o Goldman Sachs avalia que a JBS está sendo negociada atualmente a 5,4 vezes o EBITDA (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) futuro em IFRS, com base nas projeções do segundo trimestre de 2025 ao primeiro trimestre de 2026 e nos dados mais recentes do balanço do 1T25. A instituição destaca que a conversão das demonstrações financeiras de IFRS para US GAAP exige ajustes relevantes em áreas como custos, arrendamentos, ativos biológicos, impostos e imobilizado.

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Embora a JBS ainda não divulgue seus números consolidados em US GAAP e dólares, o Goldman estima que, após a conversão cambial, o EBITDA consolidado em US GAAP seria cerca de 20% inferior ao reportado em IFRS, especialmente devido aos ajustes nos resultados da Seara e da operação de carne bovina no Brasil. Com isso, a JBS estaria negociando a 6,3 vezes o EV/EBITDA futuro em US GAAP, o que implica um desconto de aproximadamente 20% em relação à Tyson Foods, negociada a 7,9 vezes, segundo dados da Bloomberg.

Apesar de o desconto relativo entre JBS e Tyson já ter recuado 51% desde março, quando foi anunciado o acordo entre os principais acionistas para viabilizar a dupla listagem, o Goldman Sachs acredita que ainda há espaço para valorização adicional das ações. Com isso, reiterou recomendação de compra e preço-alvo de R$ 50,50.

A Genial Investimentos, por sua vez, comenta que a aprovação da estrutura na AGE já era provável (mas com margem mais estreita), uma vez que os acionistas minoritários estarão atentos à tendência de aumento dos preços das ações no curto prazo, dada a redução da diferença entre Valor da Firma (EV)/EBITDA da JBS e seus pares, e não necessariamente a questões relacionadas ao poder de voto, o que implica um prazo mais longo.

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Na avaliação da casa, fundos ativos podem aumentar suas posições temporariamente, em busca da reprecificação do valuation, para depois reduzirem gradualmente suas exposições e realizarem ganhos, considerando o cenário de fundamentos mais suaves, como a compressão de margens nas principais unidades de negócios ao longo de 2025. Já os fundos passivos devem sustentar o interesse nas ações, especialmente diante da possível inclusão da companhia em índices como o Russell 1000 e, futuramente, o S&P 500.

A Genial destaca que a JBS está sendo negociada atualmente a 5,8 vezes EV/EBITDA projetado para 2025, abaixo dos múltiplos de seus pares globais, como Tyson Foods (8,4 vezes) e Pilgrim’s Pride (6,6 vezes), além da média do setor de alimentos e bebidas em Frankfurt e Londres (7,2 vezes) e na Ásia (6,8 vezes). Segundo a casa, uma convergência da JBS para a média global de 7,5 vezes poderia implicar em valorização de quase 30% nas ações, mesmo considerando uma diferença residual de 0,5 vezes em relação aos pares, como modelado no cenário base.

A combinação da estrutura de ações dual class (ações A e B), o acesso a capitais globais com potencial inclusão em grandes índices, e o pagamento de um dividendo extraordinário de R$ 1,00 por ação, reforça a expectativa de rerating do valuation da companhia.

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A Genial Investimentos manteve recomendação de compra para as ações da JBS, com preço-alvo de R$ 54,50 em 12 meses, o que representa um potencial de valorização de cerca de 29%.

A equipe de análise do Santander reiterou recomendação de compra e preço-alvo de R$ 58 para as ações da JBS, mesmo com a expectativa de saída dos papéis dos principais índices da B3. A aprovação da listagem nos Estados Unidos e o início do processo de deslistagem no Brasil podem gerar um impacto estimado de R$ 550 milhões em saídas de fundos passivos, especialmente com a exclusão dos papéis dos índices Ibovespa e IBRX 100 — que respondem por cerca de 1,1 dia de negociação média das ações.

Por outro lado, os analistas do Santander não esperam a entrada imediata da JBS em índices globais ou norte-americanos relevantes, o que limita o potencial de entrada de fluxo no curto prazo.

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Segundo o relatório, o processo de reprecificação já está em curso: as ações negociam atualmente a 5,3 vezes EV/EBITDA — acima da média histórica de 10 anos de 4,9 vezes — refletindo picos de resultado em Seara e PPC. Em US GAAP, a JBS negocia a 6,1 vezes, contra 5,9 vezes da PPC e bem abaixo dos 8,4 vezes da Tyson Foods, o que sugere que ainda há espaço para valorização adicional.

A companhia está em processo para se tornar oficialmente uma empresa norte-americana em 11 de junho. Contudo, os analistas alertam que a elevação recente do IOF sobre investimentos no exterior pode desestimular a conversão dos BDRs em ações Classe A. A nova alíquota de 1,1% sobre valores aplicados fora do país tende a reduzir a atratividade da conversão e a limitar a liquidez potencial do papel.

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