o que o sobe e desce do imposto significa para seus investimentos

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Em mais um episódio de “vai e volta”, semelhante ao ocorrido no anúncio do pacote de gastos no ano passado, o governo federal publicou, na noite de quinta-feira (22), um decreto que aumenta o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para empresas, previdência e operações de câmbio. Horas depois, voltou atrás em parte da medida, revogando a tarifa sobre remessas de fundos de investimento ao exterior para “evitar especulações” que pudessem inibir investimentos de fora, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

O movimento, é claro, gerou forte estresse no mercado. O índice EWZ, que replica ações brasileiras em Nova York, recuou 2,11% nesta sexta-feira (23). O dólar subiu, o Ibovespa abriu em queda — revertida depois — e os juros futuros avançaram, sinalizando aumento da percepção de risco. Além da turbulência imediata, a medida levantou dúvidas sobre os impactos nos investimentos – tanto no curto e médio prazo quanto no longo prazo.

De imediato, segundo especialistas, o pacote econômico elevou a sensação de risco no país e a insegurança jurídica e fiscal, que indiretamente geram volatilidade nos investimentos. Além disso, a nova regra colocou ainda mais pressão sobre empresas e pessoas físicas, fez com que investidores pedissem por rentabilidade maior para investir no país e afetou a previsibilidade para planejar investimentos no longo prazo.

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Prêmio maior em títulos públicos

Guilherme Almeida, head de Renda Fixa da Suno Research, disse que essa volatilidade mais acentuada por causa da percepção de um risco fiscal mais elevado acaba exigindo um maior prêmio nos ativos locais, como, por exemplo, nos títulos públicos. Em reação às medidas, os retornos dessas aplicações do governo federal dispararam nesta sexta-feira, com papéis de 2032 pagando mais de 14%.

“Esses títulos públicos são a base de precificação para todos os demais títulos no mercado. Consequentemente, a remuneração exigida em outros investimentos também acaba se alterando, acaba se elevando. Então eu acho que essa incerteza acaba por exigir um prêmio de risco mais elevado e isso obviamente aumenta essa volatilidade no mercado”, disse o especialista.

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Pressão na bolsa e nas empresas

A medida respingou na bolsa no curto prazo – e deve gerar mais pressão nas empresas. Isso porque o decreto determinou o aumento da alíquota do IOF para empresas de 1,88% para até 3,95% ao ano. No caso daquelas enquadradas no Simples Nacional, o avanço foi de 0,88% para 1,95%. Essa elevação, segundo especialistas, dificulta a obtenção de crédito e eleva o custo da dívida, em um momento em que elas já sofrem com a Selic na casa dos 14,75%.

“O aumento do IOF sobre operações de crédito eleva o custo do financiamento em um cenário de juros já elevados. Isso tende a reduzir a margem de lucro das empresas (principalmente as mais alavancadas), impactar seus investimentos e, consequentemente, afetar negativamente os preços das ações no mercado”, disse Juliana Tomaz, gestora de crédito da Asset Management Warren (AMW).

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Setores que dependem fortemente de financiamento para operar ou expandir, como construção civil, varejo e infraestrutura, tendem a ser os mais impactados pelo aumento do custo do crédito decorrente da elevação do IOF, segundo a especialista. Isso porque esses negócios normalmente operam com margens apertadas ou precisam de capital intensivo, o que os torna mais sensíveis a alterações no custo do dinheiro, afetando diretamente sua rentabilidade.

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Olhar ”desconfiado”do estrangeiro

Boa parte da alta recente do Ibovespa foi impulsionada pelo fluxo estrangeiro, que somou R$ 20 bilhões em entradas por 17 pregões seguidos até a semana passada. As medidas do governo, porém, podem gerar uma visão negativa para o Brasil, segundo Marcelo Simões, head de Produtos de Investimento na Terra Investimentos.

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“O investidor estrangeiro entende que essas intervenções na economia causam uma insegurança muito grande, gerando uma falta de previsibilidade. Já temos um aumento constante da taxa básica de juros e agora um aumento maior ainda na carga tributária”, falou.

Almeida, da Suno Research, vai na mesma linha. O investidor estrangeiro, segundo ele, considera o grau de incerteza de um local na sua decisão de investimento, fazendo uma relação de risco-retorno e avaliando se o prêmio ofertado para investir aqui no Brasil compensa o risco percebido.

“Com essa medida de ontem, eu acho que essa percepção de risco acaba aumentando também. Então, certamente isso vai entrar no cálculo do investidor estrangeiro. É possível que isso diminua o fluxo de entrada de capitais, justamente porque a percepção de risco aumenta e, consequentemente, a volatilidade fica mais acentuada aqui na economia doméstica”, falou.

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Diversificar em dólar fica mais difícil

O dólar subiu forte nesta sexta, operando em alta de 1,03%, para R$ 5,721 na venda. O decreto aumentou o imposto para compra de moeda estrangeira em espécie, que passou de 1,1% para 3,5%. Nas operações com cartões (débito, pré-pago ou crédito), a taxa subiu de 3,38% para 3,5%. Isso, segundo Simões, pode reduzir a atratividade de investimentos em moeda estrangeira, especialmente para pessoas físicas.

“Diversificar investindo no exterior vai ficar cada vez mais difícil. Mesmo que o mercado lá fora esteja melhor que aqui, teremos um impacto significativo na rentabilidade final dos investimentos com esse aumento. Esse impacto parece que foi parcialmente ‘resolvido’, pelo menos por enquanto. O governo acabou recuando e voltou atrás no aumento do IOF nas remessas, principalmente para quem investe em fundos no exterior.”

Juliana, da AMW, concorda que isso pode reduzir a atratividade em dólar. No entanto, para investidores que buscam proteção cambial ou diversificação internacional, a moeda norte-americana pode continuar sendo uma opção, embora com custos mais elevados, afirmou. “O investidor precisará considerar na conta do retorno do investimento o custo do IOF.”

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Alíquota da aposentadoria é ”controversa”

O decreto também determina a criação de uma alíquota de 5% para planos de previdência complementar com aportes mensais acima de R$ 50 mil. “Aparentemente, o potencial de arrecadação é menor do que o potencial de prejuízo para esse instrumento de investimento. Eu tenho um certo receio que esses 5% possam de alguma forma reverter o investimento”, disse Julio Ortiz, CEO da CX3 Investimentos.

Para Juliana, o aumento da taxa é “controverso” e pode impactar negativamente o fluxo de aplicações nesses fundos, e ‘levar a uma retração nos investimentos em previdência privada, fazendo com que os investidores busquem alternativas para a formação de patrimônio e planejamento previdenciário, o que pode afetar o mercado desses fundos no médio e longo prazo.”

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A melhor forma de se proteger contra mudanças repentinas nas regras do jogo é diversificar, tanto nos tipos de ativos quanto na localização dos investimentos, segundo Henrique Soares, planejador financeiro CFP pela Planejar. ”Em resumo, diversificação e antecipação são as melhores defesas contra decisões políticas que afetam diretamente a rentabilidade e o planejamento de longo prazo”.

Ele sugeriu alocação em fundos com exposição internacional, já que fundos brasileiros que aplicam no exterior continuam isentos de IOF sobre remessas, ”sendo uma alternativa eficiente”, e Investimentos atrelados ao dólar, como ações exportadoras, fundos cambiais e ETFs internacionais, ”pois ajudam a balancear a carteira em momentos de instabilidade local”

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