A guerra do entretenimento entrou em campo. O que antes era um terreno dominado por filmes e séries, agora dá lugar a um novo filão promissor: os eventos esportivos ao vivo. Com investimentos bilionários, as principais plataformas de streaming do mundo estão travando uma disputa acirrada pelos direitos de transmissão de torneios, ligas e competições em todo o planeta.
Em 2024, segundo levantamento da empresa de pesquisa Ampere Analysis, esse novo braço do setor consumiu mais de US$ 10 bilhões. A expectativa é que em 2025 esse montante cresça 10%.
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A movimentação do mercado não é casual. Diante da saturação de conteúdo roteirizado e do crescimento da concorrência, os gigantes do streaming voltaram suas atenções para o esporte, um dos poucos nichos capazes de atrair audiências massivas em tempo real, e que normalmente mexe com uma paixão renovada temporada a temporada.
O resultado é uma mudança no cardápio dessas plataformas: cada vez mais, o público quer ver a bola rolar, o carro acelerar ou o lutador subir no octógono ao vivo — e na palma da mão.
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No ataque
A Netflix, que no começo era avessa às transmissões ao vivo, parece ter mudado sua filosofia. Em 2024, deu passos largos rumo ao universo esportivo. Assinou com a WWE RAW para exibir o show de luta livre nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e América Latina, e anunciou a aquisição dos direitos globais dos jogos de Natal da NFL até 2027. A principal aposta, porém, veio com o acerto com a FIFA para transmitir as edições de 2027 e 2031 da Copa do Mundo Feminina, sinalizando que o apetite pela bola é real, embora os valores do acordo ainda estejam sob sigilo.
A Amazon Prime Video não ficou atrás. Em sua ofensiva global, comprou os direitos de jogos da NBA para diversos mercados estratégicos, incluindo Estados Unidos, Brasil, México e principais países da Europa Ocidental. No Brasil, em uma disputa com a Globo conseguiu abocanhar direitos da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro. A empresa garantiu, inclusive, uma “fatia exclusiva”: um jogo por rodada da Série A está só lá – nem no Premiere está.
O movimento da Amazon é estratégico. Assim como a Netflix, a empresa percebeu o poder de engajamento do esporte para manter assinantes fiéis e atrair novos públicos. No streaming, o ao vivo se tornou um diferencial competitivo.
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O cenário brasileiro ainda reserva outras peças nesse tabuleiro. A Meli+, plataforma do Mercado Livre, ensaiou sua entrada na briga, mas por ora limita-se a investir em nomes de peso como Neymar e Franco Colapinto, jovem promessa da Fórmula 1 na Argentina. A estratégia parece mirar mais no marketing de influência esportiva do que nas transmissões em si, ao menos por enquanto.
Já a Apple TV+, que fez uma forte aposta no futebol norte-americano com o acordo exclusivo da MLS, também sondou o mercado brasileiro. Embora não tenha fechado grandes contratos até o momento, a empresa segue monitorando as oportunidades no país.
No campo dos veteranos, o grupo Disney consolidou seus ativos esportivos ao integrar todo o conteúdo da ESPN em suas plataformas. Hoje, é dona dos direitos de transmissão de pesos pesados como o Campeonato Inglês, o Italiano e a Libertadores da América no Brasil, um trunfo importante diante da crescente competição.
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Consumo de esportes mudou
A explicação para esse boom está diretamente ligada ao comportamento do consumidor.
“Acredito que o crescimento do streaming de vídeo no Brasil é resultado de uma série de fatores interligados, que vêm moldando o comportamento do consumidor e impulsionando o consumo de conteúdo online”, afirma Renê Salviano, CEO da Heatmap e especialista em marketing esportivo.
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“A capacidade das plataformas de oferecer acesso fácil, rápido e flexível a uma ampla variedade de conteúdo é um dos principais motivos pelos quais a procura disparou no país”, completa.
Esse novo panorama traz desafios e oportunidades. De um lado, há o risco da fragmentação do conteúdo, com diferentes competições espalhadas por múltiplas plataformas. Do outro, abre-se um mercado dinâmico, que envolve grandes audiências, contratos milionários e, claro, o fascínio universal do esporte. O streaming não quer mais ser apenas uma sala de cinema particular, quer ser também arquibancada, ringue, pista e estádio.