Previdência privada ensaia novo ano de alta, sinaliza CEO da SulAmerica; veja motivos

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Para Marcelo Mello, CEO da SulAmérica Investimentos, apesar da cautela no cenário macroeconômico global, há a perspectiva de um ambiente construtivo para o mercado brasileiro, com valorização moderada do real e algum fluxo de capital estrangeiro para a bolsa nacional.

Em entrevista exclusiva ao InfoMoney, o executivo destaca o momento favorável para a previdência privada, impulsionado pelo crescimento da renda real das famílias e por um ambiente de juros elevados, além de significativas mudanças regulatórias recentes.

Ele avalia ainda que o mercado de crédito privado é grande e deve ser analisado de forma qualitativa.

“No segmento de alta qualidade, com empresas robustas e com acesso ao mercado de capitais, o cenário desafiador pode ser superado com boa gestão de caixa. Já o segmento de crédito high yield, que envolve empresas menores, com mais dificuldade de acesso ao mercado de capitais, está começando a sofrer, com sinais de recuperação judicial e renegociação de dívidas”, aponta.

Mello também pontua que a política monetária adotada pelo governo brasileiro tem funcionado, mas vê baixa probabilidade de avanços significativos na política fiscal ainda em 2025 ou 2026 – ano eleitoral.

A SulAmérica Investimentos foi uma das vencedoras da primeira edição da Premiação Outliers InfoMoney, que reconheceu os destaques do mercado em 16 categorias.

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Confira abaixo a entrevista concedida por Marcelo Mello, CEO da SulAmérica Investimentos:

InfoMoney: Qual é a sua análise sobre os desafios e oportunidades para os investidores considerando esse cenário macroeconômico atual, tanto o nacional quanto o global? Sabemos que o global muitas vezes acaba interferindo aqui. Por exemplo, vamos lembrar do tarifaço recente do Trump que deixou muita gente de cabelo em pé…

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Marcelo Mello: Começando pelo cenário internacional, o mercado iniciou 2025 otimista com o governo Trump e projetando o arrefecimento da política monetária nos EUA. No entanto, vimos uma reversão desse quadro com a intensificação da guerra comercial promovida por Trump, tornando o cenário mais desafiador para o investidor, com projeções de inflação e manutenção de juros altos por mais tempo. Ainda que se espere uma redução tímida, principalmente no último trimestre de 2025, é um cenário muito diferente do esperado pelo mercado no final de 2024. Isso também impacta países emergentes, que precisam manter juros elevados para continuar atraindo investidores estrangeiros.

No Brasil, a expectativa é de que a taxa de juros permaneça em nível elevado, mantendo o foco dos investidores em estratégias de renda fixa. A migração para ativos pós-fixados, NTN-B e crédito privado deve continuar, como já observado em 2023 e 2024. A projeção anterior de uma Selic acima de 15% em 2025 perdeu força, e o cenário atual indica estabilidade até o terceiro trimestre, com possibilidade de redução chegando a 14% no fim do ano.

IM: Qual a projeção de vocês em relação a dólar e bolsa até o fim de 2025?
MM:
A perspectiva para o Brasil é positiva, com o real podendo se beneficiar da queda no preço do petróleo e do impacto da guerra comercial, com tarifas que inviabilizem as mercadorias que vem dos asiáticos, que são redirecionadas para mercados emergentes, como o brasileiro. Esse movimento é desinflacionário, valorizando o real – ainda que de forma não tão significativa – ainda que o dólar se mantenha entre R$ 5,40 e R$ 5,60.

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Na bolsa, o cenário é de recuperação moderada. Após um longo período de desvalorização e com a possível queda da Selic, o Brasil pode atrair parte do capital estrangeiro, já que os ganhos nos EUA não são os mesmos e agora a perspectiva ficou mais sombria. A expectativa é de valorização gradual da bolsa brasileira ao longo de 2025, ainda que sem grandes fluxos.

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IM: E como fica a previdência privada nesse cenário? Fica mais ou menos atrativa? Depende do perfil do investidor?

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MM: Os principais gatilhos para o crescimento da previdência privada no Brasil passam, primeiro, pela renda real da população. Um cenário de aumento da renda real favorece a aquisição de bens e a formação de patrimônio — e 2025 deve marcar o terceiro ano consecutivo de alta da renda real, o que cria um cenário favorável para o avanço da indústria.

O segundo conjunto de gatilhos está ligado à dinâmica macroeconômica, especialmente à taxa de juros. Quando os juros estão elevados, como deve ocorrer em 2025, o fluxo de investimentos em previdência tende a se concentrar em produtos de renda fixa, principalmente os pós-fixados e atrelados à Selic, com foco na proteção da rentabilidade.

Esse contexto reforça um perfil mais conservador dos investidores e favorece a previdência privada, já que as alternativas de maior risco continuam menos favoráveis. A expectativa é de que o comportamento observado em 2024 se repita neste ano.

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IM: Mais um ingrediente desse caldeirão apresentado aqui é a questão da regulação do segmento de previdência privada, que nos últimos anos vem passando por várias mudanças. Só para citar dois exemplos: a possibilidade de escolha do regime de tributação no resgate e não mais na contratação e a utilização dos recursos dos planos como garantia para empréstimos.

MM: Eu vou adicionar mais duas alterações importantes que alavancam o mercado de previdência. Uma é a tributação dos fundos exclusivos fechados, que eram veículos com patrimônios muito relevantes, permitindo que grandes investidores diferissem o pagamento do tributo. O governo alterou isso para o modelo de come-cotas semestral, como outros fundos da indústria. Essa mudança gerou fluxo adicional para os PGBLs e VGBLs, o que foi importante.

Outro ponto relevante foi a flexibilização da alocação de recursos nos fundos de previdência, permitindo a compra de ETFs, criptomoedas e operações estruturadas. Isso tornou a previdência aberta mais moderna e atrativa para os investidores.

IM: E qual é a sua avaliação sobre o reflexo para o setor dessas mudanças? Vai ter algum impacto também neste ano?

MM: Acredito que a regulação tem avançado para tornar o mercado mais moderno e flexível, quebrando as resistências que existiam. A mudança no regime tributário, por exemplo, que é decidido apenas no resgate, facilita a decisão do investidor.

A possibilidade de usar a reserva de previdência como garantia para empréstimos também ajuda a manter a disciplina de acumulação, o que é fundamental, além de conseguir condições muito competitivas para esse financiamento pelo fato dessa reserva ser uma garantia muito forte.

 Além disso, o crescimento da renda real e a regulação mais moderna favorecem o setor de previdência aberta no Brasil, com um mercado de mais de 1 trilhão já superado, com boas perspectivas de crescimento para 2025.

IM: Falando agora sobre estratégia de alocação de fundos, qual é a estratégia adotada, principalmente no fundo com o qual a SulAmérica saiu vencedora do Prêmio Outliers, o SulAmérica Prev Crédito ESG, vencedor da categoria melhor fundo de previdência renda fixa crédito privado?

MM: Nosso foco é um perfil de alocação em risco de crédito, buscando empresas com robustez financeira e acesso ao mercado de capitais. Nosso diferencial, não só nesse fundo que foi premiado, mas em todos os outros produtos de crédito da casa, é uma análise de crédito disciplinada, principalmente no mercado secundário, que tem ganhado dinâmica no Brasil.

No caso do SulAmérica Prev Crédito ESG, a estratégia envolve também um processo de investimento voltado para a sustentabilidade das empresas, buscando mitigar riscos futuros – entre eles, trabalhistas, ambientais ou de governança. A análise ESG ajuda a identificar passivos que possam impactar o resultado futuro das empresas, além de buscar rentabilidade.

IM: Qual é a diferença na estratégia de alocação entre os fundos SulAmérica Prev Crédito ESG e o SulAmérica Crédito ESG? Este é outro fundo que se destacou na premiação, mas em terceiro lugar, na categoria melhor fundo de renda fixa de crédito privado.

MM: O processo é muito semelhante, com o foco em sustentabilidade e engajamento com as empresas, mas a principal diferença está na regulação. Apesar da regulação de previdência se aproximar da regulação de fundos, ainda há algumas distinções que precisam ser respeitadas para garantir o enquadramento dos produtos.

IM: De forma geral, qual sua avaliação sobre o mercado de crédito privado? Gestores têm apontado o descompasso atual do mercado que vive uma alta, mas com o cenário macroeconômico mais complicado.

MM: O mercado de crédito privado é grande e deve ser analisado de forma qualitativa. No segmento de alta qualidade, com empresas robustas e com acesso ao mercado de capitais, o cenário desafiador pode ser superado com boa gestão de caixa. Já o segmento de crédito high yield – ativos que pagam taxas mais elevadas, mas com riscos de crédito mais elevados também -, que envolve empresas menores, sem capital aberto e com mais dificuldade de acesso ao mercado, está começando a sofrer, com sinais de recuperação judicial e renegociação de dívidas.

Vamos começar a ver um nível de precificação, principalmente no mercado secundário para essas empresas menores, mais dilatado na comparação com as empresas de alta qualidade. Essa diferença foi diminuindo ao longo do tempo, porque o investidor estava mais propenso a risco, mas aumentará na medida que o cenário ficar mais desafiador. As empresas de alta qualidade vão manter as taxas que pagam hoje e as de baixa qualidade de high yield no mercado secundário vão ter um aumento das taxas exigidas pelos investidores para comprarem esses papéis.

IM: Qual a expectativa para ações ou medidas que o governo poderia tomar ainda este ano para ajudar a melhorar o que está começando a ficar preocupante no mercado? Até pensando que no ano que vem tem eleições…

MM: O governo deve continuar com a política monetária ortodoxa, o que tem mostrado resultados com a redução da inflação e o mercado já projetando taxas de juros menores. O que falta para ajudar a melhorar a dinâmica de crédito e outras classes de ativos é a política fiscal.

O projeto de isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000 também será importante, mas precisa ficar claro qual vai ser a compensação. É de qualidade ou não?

Quanto ao orçamento, o governo precisa mostrar sinais claros de redução de despesas e não só eficiência na arrecadação, o que pode ser difícil devido ao cenário eleitoral em 2026. O fiscal poderia ajudar, mas o meu nível de convicção de que isso vai acontecer ao longo de 2025 e 2026 é baixo.

IM: Pode falar sobre a trajetória da SulAmérica Investimentos e suas áreas de atuação para quem não conhece a gestora?

MM: A SulAmérica Investimentos tem quase 30 anos de história e é uma das maiores gestoras independentes no mercado. Atualmente, administramos cerca de R$ 85 bilhões em diversas estratégias, desde produtos conservadores, como pós-fixados, títulos públicos, até crédito privado e fundos indexados à inflação, multimercados e de ações. Temos uma base de cerca de 150 mil clientes e nossa trajetória tem sido marcada por crescimento contínuo, com um portfólio diversificado que atende investidores com diferentes perfis de risco.

IM: Para fechar, tem alguma dica para o investidor, considerando o cenário atual e o que discutimos durante a conversa?

MM: O cenário é de aversão a risco e incerteza, com taxas de juros elevadas. A recomendação é focar no básico: considerar ativos como NTN-B, que é um ativo do governo com boa rentabilidade atrelada à inflação, além de pré e pós-fixados. Para investidores que buscam ativos mais arriscados, é essencial buscar orientação profissional para entender melhor os riscos envolvidos, especialmente no mercado de crédito.

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