Presidente de Harvard se desculpa após relatórios sobre preconceito na universidade

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A Universidade de Harvard divulgou seus aguardados relatórios sobre antissemitismo e preconceito contra muçulmanos, apresentando uma crítica contundente sobre como seus estudantes se comportaram após o ataque do Hamas contra Israel em 7 de outubro de 2023.

“Peço desculpas pelos momentos em que falhamos em atender às altas expectativas que, com razão, estabelecemos para nossa comunidade”, disse o presidente de Harvard, Alan Garber, em uma carta nesta terça-feira (29) que acompanhava os relatórios, que ofereceram recomendações para a universidade em áreas como admissões, tratamento de reclamações e ensino.

Garber, que reconheceu recentemente ter presenciado antissemitismo em Harvard, está divulgando os estudos no momento em que a universidade mais antiga e rica dos EUA enfrenta múltiplas investigações governamentais sobre o tratamento dado a estudantes judeus e a discussão racial no campus.

Os relatórios analisam um período tumultuado no último ano letivo, marcado por protestos anti-Israel e acampamentos no Harvard Yard, além de alegações de que grupos pró-sionistas divulgaram informações pessoais de manifestantes.

Embora o governo federal tenha criticado Harvard por antissemitismo após os ataques de 7 de outubro, as críticas sob o governo Trump evoluíram para um ataque à governança da universidade, seus programas de diversidade e seu suposto viés liberal. Nesta segunda-feira (28), o governo abriu outra investigação, alegando discriminação na Harvard Law Review, revista da faculdade de Direito da universidade.

A escola, localizada em Cambridge, Massachusetts, rebateu as acusações, afirmando que elas representam um esforço do governo para exercer controle sobre a universidade, em vez de abordar o antissemitismo. Harvard processou o governo este mês, acusando-o de suspender ilegalmente o financiamento após a universidade se recusar a cumprir “exigências inconstitucionais”.

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Garber criou as forças-tarefa sobre antissemitismo e islamofobia em janeiro de 2024, semanas depois de assumir como presidente interino após a renúncia repentina de Claudine Gay, a primeira presidente negra da universidade. Ela foi forçada a sair após acusações de plágio e críticas à sua resposta desastrosa em um depoimento no Congresso sobre se chamar pelo genocídio de judeus vai contra a política da universidade.

Os relatórios das forças-tarefa somam mais de 500 páginas e, em alguns momentos, oferecem relatos contundentes sobre a vida de estudantes judeus, israelenses, muçulmanos e árabes. Eles foram baseados em entrevistas com membros da comunidade e escritos por grupos compostos por mais de uma dúzia de professores, estudantes e funcionários.

Relatório sobre antissemitismo

A Força-Tarefa de Combate ao Antissemitismo e Preconceito Anti-Israel descreveu um campus onde o antissemitismo foi excluído de formas de preconceito como racismo ou xenofobia.

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O relatório incluiu o exemplo de um estudante judeu que planejava fazer um discurso sobre suas experiências como neto de um sobrevivente do Holocausto. No entanto, o estudante relatou ter sido informado de que “não poderia mencionar a missão de resgate de seu avô no discurso porque envolvia Israel”. O discurso não mencionava a guerra atual ou o sionismo, sendo estritamente sobre o Holocausto.

O relatório também descreveu uma “nova era” de organização pró-Palestina, com táticas como inserir discussões sobre a causa palestina em diversas áreas da vida estudantil e usar táticas disruptivas em eventos importantes, como a convocação de calouros e o dia de formatura na faculdade de medicina.

A força-tarefa sobre antissemitismo recomendou mudanças em oito categorias, incluindo admissões e disciplina. Para admissões, sugeriu avaliar a aptidão de um candidato em navegar por situações com pontos de vista divergentes — algo que já implementou com uma nova questão de redação anunciada no ano passado.

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Relatório sobre preconceito anti-muçulmano

A Força-Tarefa de Combate ao Preconceito Anti-Muçulmano, Anti-Árabe e Anti-Palestino relatou que estudantes e outros membros da comunidade se sentiram “abandonados e silenciados” durante o ano letivo de 2023-24.

Estudantes muçulmanos disseram à força-tarefa que viviam com medo. Um deles relatou que colegas perderam seus empregos por serem líderes em grupos de fé muçulmana. Eles também expressaram preocupação com a prática de “doxxing” — a divulgação de informações pessoais sem consentimento —, que, segundo eles, criou um clima de intimidação agravado pela percepção de que a resposta da administração foi inadequada.

O relatório sobre preconceito anti-muçulmano sugeriu sete conjuntos de recomendações, relacionadas à segurança, liberdade de expressão e transparência. As propostas incluíram o aumento de cursos sobre estudos palestinos e o fortalecimento da compreensão intercultural.

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Os autores dos relatórios afirmaram que buscaram ouvir as preocupações dos membros da comunidade, sem verificá-las. “As conclusões que emergem deste trabalho são claras”, escreveu Garber. “Precisamos reconhecê-las e agir sobre elas, e estamos fazendo isso.”

Ele afirmou que Harvard fez progressos ao limitar declarações oficiais sobre assuntos públicos não relacionados à missão central da escola e reiterar regras sobre o tempo e o local de protestos. A universidade também apontou outras ações que tomou, incluindo o desenvolvimento de “habilidades de diálogo”, a oferta de opções kosher aprimoradas e o fornecimento de apoio à comunidade durante o Ramadã.

Áreas de foco

Os relatórios não fizeram recomendações sobre se Harvard deveria desinvestir seu fundo de US$ 53 bilhões de Israel ou de fabricantes de armas dos EUA, uma grande exigência de muitos manifestantes pró-palestinos. Garber já afirmou anteriormente que a posição consistente de Harvard é que não tem intenção de “desinvestir de Israel”.

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Garber disse que a escola se concentrará em três áreas: fomentar um senso generalizado de pertencimento e promover o diálogo respeitoso; revisar e implementar políticas, procedimentos e treinamentos; e fortalecer a vida acadêmica e residencial.

Novas ações que Harvard tomará incluem uma iniciativa para promover a diversidade de pontos de vista e uma revisão adicional das políticas e procedimentos disciplinares para avaliar sua eficácia e eficiência. Harvard também revisará as recomendações, algumas das quais podem ser implementadas pela universidade e outras por escolas individuais, como admissões.

A instituição passou mais de um ano enfatizando os esforços que tomou para combater o antissemitismo, incluindo medidas de educação e segurança. Nas últimas semanas, a escola colocou o Comitê de Solidariedade Palestina de Harvard em período probatório e forçou os líderes do corpo docente do Centro de Estudos do Oriente Médio a deixarem seus cargos. Harvard também suspendeu uma parceria com a Universidade Birzeit, na Cisjordânia.

Na segunda-feira, Harvard anunciou que seu escritório de diversidade, equidade e inclusão seria renomeado como Comunidade e Vida no Campus. Isso está alinhado com seu foco atual em construir comunidade, disse a escola.

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