Pessoas que consomem grandes quantidades de alimentos ultraprocessados, como cereais matinais, biscoitos e salsichas, têm maior probabilidade de apresentar sinais iniciais da doença de Parkinson, segundo um novo estudo publicado na quarta-feira (7) na revista Neurology, da Academia Americana de Neurologia (AAN).
“Há evidências crescentes de que a dieta pode influenciar o desenvolvimento da doença de Parkinson. Nossa pesquisa mostra que o consumo excessivo de alimentos processados, como refrigerantes açucarados e lanches industrializados, pode acelerar os sinais iniciais da doença”, afirmou Xiang Gao, médico e PhD do Instituto de Nutrição da Universidade Fudan, em Xangai, China.
Apesar da pesquisa não provar necessariamente que o consumo desses produtos cause diretamente os sintomas precoces da doença, mas que existe uma associação estatística entre os dois fatores, Gao ressalta que manter uma alimentação saudável é a melhor opção para evitar maiores riscos de desenvolver doenças neurodegenerativas. “As escolhas alimentares que fazemos hoje podem influenciar significativamente a saúde do nosso cérebro no futuro”, disse.
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Embora a pesquisa não prove necessariamente que o consumo desses produtos cause diretamente os sintomas precoces da doença, mas que exista uma associação estatística entre os dois fatores, Gao ressalta que manter uma alimentação saudável é a melhor opção para reduzir o risco de desenvolver doenças neurodegenerativas.
“As escolhas alimentares que fazemos hoje podem influenciar significativamente a saúde do nosso cérebro no futuro”, disse.
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Sobre a pesquisa
O estudo analisou cerca de 42,8 mil pessoas com idade média de 48 anos que não tinham Parkinson no início do acompanhamento.
No total, o rastreamento durou 26 anos, durante os quais os participantes passaram por exames médicos regulares e responderam a questionários de saúde.
Os sinais precoces do Parkinson costumam aparecer antes dos sintomas mais clássicos, como tremores ou lentidão.
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Entre esses sinais iniciais estão: distúrbio do sono REM, constipação, sintomas depressivos, dores no corpo, dificuldade para distinguir cores, sono excessivo durante o dia e perda do olfato.
A “primeira fase” do estudo ocorreu de 1984 a 2006. Na época, os participantes registraram seus hábitos alimentares em diários preenchidos a cada dois a quatro anos, anotando o que comiam e com que frequência.
A equipe, então, analisou o consumo de alimentos ultraprocessados, como:
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- Molhos prontos, condimentos e pastas;
- doces industrializados;
- lanches e sobremesas embaladas;
- bebidas com açúcar ou adoçantes artificiais;
- carnes processadas (como salsichas);
- sobremesas lácteas e iogurtes adoçados;
- salgadinhos de pacote.
Para padronizar a análise, os cientistas definiram o que seria uma porção: uma lata de refrigerante, uma fatia de bolo industrializado, uma salsicha, uma colher de sopa de ketchup ou 28 gramas de batata chips.
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Com base nesses dados, os pesquisadores dividiram os participantes em cinco grupos, de acordo com a média diária de consumo de ultraprocessados: o grupo com maior ingestão consumia 11 ou mais porções por dia, enquanto o grupo de menor consumo ingeria menos de três porções.
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Em 2012, os participantes relataram sintomas como constipação e distúrbios do sono REM. Já em 2014 e 2015, novas rodadas de perguntas investigaram outros sintomas não motores relacionados à doença.
A partir disso, os cientistas começaram a categorizar os participantes em quatro subgrupos: sem sintomas, com um sintoma, com dois sintomas, ou com três ou mais sintomas.
Quem consumia 11 ou mais porções diárias de ultraprocessados apresentava 2,5 vezes mais chances de apresentar três ou mais sintomas não motores associados ao Parkinson em comparação àqueles que consumiam menos de três porções por dia.
A associação foi observada em quase todos os sintomas analisados, exceto pela constipação, que não apresentou correlação significativa com o consumo alimentar.
Explicações
O estudo aponta que existem mecanismos biológicos plausíveis para explicar a associação.
Dados coletados anteriormente já indicavam a ligação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e o aumento de inflamações no organismo, além de um maior risco de estresse oxidativo e desequilíbrio da microbiota intestinal.
Esses fatores estão diretamente relacionados à morte de neurônios e ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como o Parkinson.
Este foi o primeiro estudo a analisar a relação entre esses alimentos e os sintomas não motores precoces da doença, mas ainda são necessárias mais investigações para confirmar os achados.
Por conta disso, os pesquisadores estão se programando para realizar novas análises, como uma próxima etapa que investigará se a redução do consumo de ultraprocessados durante a fase prodrômica da doença poderia ajudar a retardar sua progressão clínica.