Qual o saldo da temporada de resultados do 1T25? Veja destaques positivos e negativos

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A temporada de resultados do primeiro trimestre de 2025 (1T25) foi encerrada para as empresas da B3 com uma visão mais positiva do que o projetado, em meio às expectativas de que a economia mostraria sinais de que os juros altos já trariam efeitos para a desaceleração.

Conforme destacou o Itaú BBA, a temporada do primeiro trimestre foi “ligeiramente positiva”.

As empresas acompanhadas pelo Santander reportaram um avanço de 14% na receita líquida no 1T25 em relação ao mesmo período do ano anterior (1T24).

Também houve crescimento de 9% no lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (Ebitda) e de 12% no lucro líquido. O desempenho financeiro veio acompanhado por mudanças no tom das teleconferências de resultados, com maior presença de termos como “desaceleração” e “incerteza”, especialmente nos setores mais expostos ao comércio global.

Segundo os analistas, as companhias com atuação mais voltada ao mercado interno mantiveram bons números, ainda que em ritmo levemente inferior ao observado no trimestre anterior. O Ebitda dessas empresas cresceu 12% em relação ao 1T24, uma desaceleração em relação aos 16% registrados no quarto trimestre de 2024 (4T24). Já os setores ligados a commodities apresentaram recuperação: após uma retração de 7% no 4T24, o Ebitda subiu 7% no 1T25.

Entre os destaques positivos do trimestre estão Bradesco (BBDC4), Direcional (DIRR3), Mercado Livre (BDR: MELI34), Motiva (MOTV3) e Totvs (TOTS3). Já RD Saúde (RADL3), Suzano (SUZB3), BB Seguridade (BBSE3), MRV Engenharia (MRVE3) e M Dias Branco (MDIA3) tiveram os piores desempenhos dentro do universo de cobertura do banco.

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Na divisão por setor, agronegócio e alimentos e bebidas lideraram o crescimento da receita líquida. Em contrapartida, saúde e propriedades de renda ficaram entre os segmentos que reportaram os piores números. Quando analisado o Ebitda, agronegócio e construção civil apresentaram os maiores avanços. Por outro lado, o setor de saúde mostrou retração. Varejo e siderurgia superaram as estimativas do Santander para Ebitda, enquanto bens de capital e transporte ficaram abaixo do esperado.

Em relação ao lucro líquido, papel e celulose e varejo registraram os maiores avanços no comparativo anual. Já siderurgia e agronegócio apresentaram recuo, segundo os dados do banco.

O BTG Pactual apontou que, à primeira vista, os resultados no geral (ex-Petrobras PETR4 e Vale VALE3) ficaram em linha com suas expectativas, com a receita 1,6% acima de sua estimativa e o Ebitda em linha.

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“O lucro líquido ficou 7,5% abaixo de nossas estimativas, principalmente devido aos fracos resultados das exportadoras de commodities. Se considerarmos apenas as empresas nacionais, os resultados ficaram um pouco acima de nossas estimativas, já que a receita líquida e o Ebitda ficaram 2,1% acima de nossas projeções, enquanto o lucro líquido ficou 1,2% acima de nossas expectativas”, aponta o banco.

Em comparação com o 1T24 (ex-Petrobras e Vale), os resultados foram sólidos, com a receita e o Ebitda crescendo 13,2% e 7,4%, respectivamente, enquanto o lucro líquido aumentou 16%. A receita líquida das empresas de commodities aumentou 9,3%, enquanto o Ebitda ficou praticamente estável em relação ao ano anterior, e o lucro líquido disparou 47% na base anual.

Por sua vez, os resultados das empresas domésticas também foram bons, com a receita, o Ebitda e o lucro líquido crescendo 14,5%, 12,1% e 7,9% ano a ano, mesmo com uma taxa Selic média muito mais alta no 1T25 em relação ao ano anterior.

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Qualitativamente falando, o BTG avalia que esta foi uma forte temporada de resultados, muito melhor do que a do 4T24, mas ainda não no mesmo nível do 3T24 e do 2T24. A porcentagem de resultados sólidos aumentou em relação ao último trimestre (37% versus 30% no 4T24), liderada principalmente pelos setores de Varejo e Imobiliário.

Também houve um declínio na porcentagem de resultados fracos (29% versus 34% no último trimestre). A diferença entre resultados fortes e fracos voltou a ser positivo depois de se tornar negativo no 4T24 pela primeira vez desde o 4T22, e agora está com uma diferença de 8 pontos percentuais, ou p.p. (versus -5p.p. no 4T24), próximo à diferença do ano passado (+9 p.p. no 1T24).

Mudança de foco

Ao analisar as palavras mais utilizadas nas transcrições das teleconferências, o Santander observou maior recorrência dos termos “desaceleração”, “incerteza” e “tarifa” na comparação com o trimestre anterior. A leitura foi feita com base em um levantamento quantitativo de menções e permitiu capturar nuances do sentimento dos executivos.

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O aumento no uso da palavra “tarifa” está ligado, em parte, ao anúncio feito pelos Estados Unidos em abril, que ampliou as tarifas comerciais. A medida reacendeu discussões sobre as possíveis consequências nas cadeias globais de suprimentos. O tema apareceu com mais intensidade nas falas de executivos dos setores de papel e celulose, bens de capital e óleo e gás. Ainda assim, houve uma redução nas menções dentro do setor de siderurgia na comparação com o trimestre anterior, quando tarifas específicas já haviam sido anunciadas.

Já as referências à inflação diminuíram, o que sugere uma menor preocupação em relação às pressões de preços no curto prazo. Essa mudança, segundo o banco, foi mais evidente no setor de construção civil, onde, apesar da persistência de pressões inflacionárias — especialmente em mão de obra —, as companhias vêm adotando práticas mais conservadoras nos orçamentos. As empresas do setor passaram a projetar taxas inflacionárias entre 7% e 8% já no início do ano e, com isso, vêm ajustando custos por meio de maior eficiência operacional.

Também foi registrada leve queda nas menções a juros, o que pode indicar menor preocupação com novas medidas de aperto monetário. A equipe econômica do Santander, por exemplo, revisou suas projeções de inflação para baixo: de 5,8% para 5,4% neste ano, e de 5,0% para 4,8% em 2026. Para a Selic, a projeção atual é de manutenção em 14,75% nos próximos meses.

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Percepções setoriais e expectativas

O setor de bens de capital e mineração foi o que mais contribuiu para o aumento de menções a “desaceleração” e “incerteza”, refletindo preocupações com o ambiente externo e a possibilidade de retração nos investimentos globais. Já o termo “recuperação” manteve frequência estável, com o setor de alimentos e bebidas puxando as menções para cima, diante de uma melhora nos volumes. Em sentido oposto, papel e celulose reduziu consideravelmente o uso do termo, já que os preços da celulose seguem pressionados pelas tensões comerciais.

A avaliação do Santander sugere que, embora os números do trimestre indiquem avanço generalizado entre as empresas sob sua cobertura, o discurso corporativo revela uma postura mais cuidadosa. A combinação entre resultados positivos e aumento nas menções a incertezas pode sinalizar uma postura mais conservadora na alocação de capital nos próximos meses, especialmente entre empresas mais expostas ao mercado externo.

O BTG aponta concentrar a análise nos lucros das empresas nacionais, uma vez que os lucros das empresas de commodities são frequentemente distorcidos devido ao fato de sua dívida ser fortemente denominada em moeda estrangeira.

Os lucros domésticos cresceram 7,9%, liderados por bancos (+R$ 2,1 bilhões; +8% anualmente) e Alimentos & Bebidas (+R$ 1,2 bilhão; +22% a/a). No setor bancário, o Bradesco (+R$ 1,7 bilhão; +39% a/a) e o Itaú (+R$ 1,4 bilhão; +14% a/a) foram os principais responsáveis pelo crescimento dos lucros.

O desempenho do Bradesco pode ser atribuído uma fraca base de comparação e a um NII (margem líquido de juros) de clientes mais forte, enquanto o resultado do Itaú também foi ajudado pelo crescimento da NII de clientes, refletindo um mix de portfólio mais lucrativo, mas também por ganhos comerciais mais fortes, levando a NII de mercado acima das expectativas, e por provisões para perdas de crédito menores do que o esperado devido à formação mais saudável de inadimplência. Do lado negativo, o agronegócio (-R$ 3 bilhões) foi o principal detrator do lucro líquido.

Desempenho

Bradesco e Direcional: resultados acima das expectativas

O Bradesco (BBDC4) encerrou o trimestre com lucro líquido recorrente de R$ 5,9 bilhões, avanço de 39% em relação ao mesmo período do ano anterior e retorno sobre patrimônio líquido (Roae) de 14,4%, aponta o Santander. O banco superou as previsões do mercado com crescimento de receitas e controle das despesas.

Apesar do aumento de 2% nas provisões, decorrente da nova Resolução nº 4.966, os indicadores de crédito mostraram estabilidade: os empréstimos em estágio 3 representam 8,0% da carteira, ante 8,4% no 1T24.

Os analistas do Santander veem os resultados como um indicativo de revisão para cima nas projeções de lucro deste ano, estimado em R$ 21,5 bilhões. O novo programa de recompra de ações, equivalente a 1% do free float (número total de ações que estão livres para negociação no mercado), foi visto como um gesto positivo de alocação de capital.

A Direcional (DIRR3) também manteve o ritmo de crescimento. O lucro líquido da construtora recorrente subiu 31% em relação ao 1T24, em linha com as estimativas do banco. O avanço das obras resultou em aumento de 33,6% na receita líquida, enquanto a margem bruta superou a própria projeção da equipe do Santander. A margem da carteira (backlog) cresceu para 44,1%, com melhora de 20 pontos-base no trimestre.

Mercado Livre: ecossistema reforça vantagens competitivas

O Mercado Livre (MELI34) registrou um trimestre que superou amplamente as estimativas. A receita ficou 8% acima do consenso da Bloomberg, com desempenho favorável tanto nas operações de comércio quanto na unidade de serviços financeiros. O lucro antes de juros e impostos (Ebit) veio 20% acima das projeções, com a recuperação da Argentina compensando os investimentos no Brasil e México.

O número de compradores únicos cresceu 24,5% em um ano. No Brasil, a penetração do fulfillment (gestão de logística) superou 60%, ajudando a reduzir custos. O lançamento do Mercado Play para smart TVs, diz o Santander, representa uma aposta no crescimento da publicidade dentro do ecossistema.

Motiva e Totvs: eficiência operacional sustenta bons números

A Motiva (MOTV3), antiga CCR, reportou aumento de 14% no Ebitda recorrente e avanço de 20% no lucro líquido, superando o consenso em 7%. Segundo o Santander, as três unidades de negócios da companhia mostraram progresso, somado a melhorias na gestão e geração de valor.

Já a Totvs (TOTS3) apresentou receita líquida consolidada de R$ 1,5 bilhão, alta de 19% na comparação anual. O Ebitda ajustado chegou a R$ 385 milhões — crescimento de 26% em um ano, com margem de 25,6%. O lucro líquido ajustado foi de R$ 228 milhões, 44% acima do valor registrado no primeiro trimestre de 2024. A área de software de gestão e a vertical de serviços financeiros foram os pontos de maior contribuição.

Desempenhos abaixo do esperado em varejo, papel e celulose e bancos públicos

No grupo das decepções, a RD Saúde (RADL3) reportou vendas abaixo do consenso em 0,8%, enquanto o Ebitda ajustado caiu 7,6% e o lucro líquido ficou 25% aquém das estimativas. A margem Ebitda perdeu 100 pontos-base em um ano, pressionada por uma combinação de margem bruta fraca e perda de alavancagem operacional. O Santander projeta revisões negativas no consenso de mercado.

A Suzano (SUZB3) teve Ebitda ajustado de R$ 4,87 bilhões no trimestre, 9% inferior às estimativas do banco. A queda foi explicada por preços realizados mais baixos e aumento de custos operacionais. O volume vendido de celulose totalizou 2,65 milhões de toneladas, queda de 19% frente ao trimestre anterior. O custo por tonelada subiu de R$ 807 para R$ 859, pressionando as margens.

O Banco do Brasil (BBAS3) teve lucro líquido de R$ 7,4 bilhões, queda de 21% em relação ao ano anterior e 20% abaixo das projeções do Santander. A inadimplência no crédito rural, o efeito da Resolução nº 4.966 e a manutenção dos juros em patamares elevados reduziram a rentabilidade do banco. A instituição colocou sob revisão suas estimativas para 2025, incluindo margem financeira, provisões e lucro.

A MRV (MRVE3) também ficou aquém das expectativas. Apesar do aumento de 16% na receita líquida da operação brasileira e recuperação da margem bruta para 28,6%, os prejuízos da unidade Resia, nos Estados Unidos, pesaram. A empresa reconheceu impairments de US$ 36 milhões ligados à venda de um projeto em Dallas e de dois terrenos.

A M. Dias Branco (MDIA3) encerrou o trimestre com Ebitda de R$ 161 milhões, valor 35% menor do que o projetado pelo Santander e 40% abaixo do consenso da Visible Alpha. A margem Ebitda recuou sete pontos percentuais, encerrando o período em 7,4%. Os principais fatores negativos foram o aumento das despesas com vendas e administrativas, que alcançaram 23% da receita, e um gasto pontual de R$ 18 milhões com o fechamento de uma fábrica.

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