Como Gerdau, Klabin, Suzano e CBA estão virando o jogo em tempos de aperto econômico

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Com operações em diferentes setores da economia, Gerdau (GGBR4), Klabin (KLBN11), Suzano (SUZB3) e a Companhia Brasileira de Alumínio (CBAV3), consideradas empresas de produção de commodities industriais e agrícolas florestais, apresentam estratégias distintas para enfrentar um ambiente macroeconômico incerto, conforme análise do Itaú BBA. O banco ouviu executivos das companhias e detalhou seus próximos passos em relatório enviado ao mercado no domingo (18).

Segundo os analistas, as quatro empresas estão em momentos distintos, mas com pontos em comum: foco em eficiência, maior controle de custos e disciplina na alocação de capital. Em todos os casos, há uma cautela maior com novos investimentos e atenção redobrada à geração de caixa e retorno ao acionista, seja por meio de recompra de ações, dividendos ou melhoria no endividamento.

Nos Estados Unidos, a Gerdau vê sinais de recuperação nas margens. A administração apontou que os níveis de utilização das operações norte-americanas estão elevados, com uma carteira de pedidos composta por produtos de maior valor agregado e prazo superior a 80 dias. Essa combinação favorece um mix mais valorizado e, consequentemente, melhores resultados.

A companhia projeta uma melhora sequencial nos números do segundo trimestre deste ano, amparada pela demanda em setores como data centers, energia solar e logística. A expectativa é de que o terceiro trimestre traga resultados ainda mais fortes, com preços em alta e efeitos sazonais positivos.

Já no Brasil, a dinâmica tem sido menos favorável. O mercado de aços longos segue pressionado por uma concorrência acirrada, especialmente entre distribuidores. A Gerdau indicou que alguns concorrentes iniciaram o ano com estoques elevados e vêm praticando preços agressivos para manter volumes, o que vem comprimindo as margens. Ainda que a demanda esteja estável, o ambiente competitivo permanece difícil. A companhia reconhece que a visibilidade para o segundo semestre segue reduzida.

Historicamente focada em rentabilidade, a Gerdau mudou de postura na divisão de vergalhões e não pretende mais perder participação de mercado para concorrentes que mantêm a capacidade inalterada. O Itaú BBA diz que a empresa acredita estar bem posicionada para recuperar terreno, amparada por sua estrutura financeira e eficiência operacional.

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A administração também vê espaço para melhorar margens no Brasil por meio de iniciativas internas, como a retomada plena das operações em Ouro Branco e a entrada em operação da nova plataforma de mineração a partir do segundo semestre de 2026.

A expansão da mina Miguel Burnier está em dia e deve permitir que a Gerdau reduza de forma importante o custo do minério de ferro. A redução do capex após este ano está no radar. Com boa parte dos investimentos concentrados em energia, mineração e melhorias industriais, a empresa avalia reduzir os desembolsos em 2026 e 2027, priorizando retornos aos acionistas por meio de recompra de ações e dividendos.

A aquisição de ativos de energia renovável não contratados segue como uma das prioridades. Já a estratégia com carvão vegetal está em revisão, diante da elevação dos custos com terras e florestas.

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Nova fase

No setor de papel e celulose, a Klabin se prepara para entrar em uma nova fase de geração de caixa e desalavancagem. Com a conclusão de grandes projetos, como Puma II, Figueira e a caldeira de recuperação em Monte Alegre, a empresa espera um fluxo de caixa livre expressivo nos próximos quatro anos. A alavancagem líquida deve cair de 3,9 vezes para 3,2 vezes até o fim deste ano, podendo atingir 2,5 vezes no médio prazo.

Sem planos de grandes expansões até 2026, a Klabin vai concentrar os investimentos em produtividade e eficiência, com pequenos projetos capazes de agregar valor com desembolsos mínimos. A administração vê boas perspectivas no mercado de fluff — tipo de celulose usada em produtos de higiene —, com preços em alta, oferta global apertada e demanda aquecida por fraldas geriátricas e itens premium. A companhia só produz fluff de alta qualidade, feito 100% com fibra longa, e avalia que soluções com base em fibra curta não devem avançar em aplicações de maior valor.

A empresa também aposta em inovação em parceria com a Tetra Pak, com foco em reciclabilidade e desenvolvimento tecnológico. Os analistas apontam que a eficiência operacional segue como pilar, com custos caixa estimados entre R$ 3.100 e R$ 3.200 por tonelada.

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A monetização de terras e parcerias florestais via Organização de Gestão de Investimentos em Madeira (TIMOs) complementa a disciplina de capital, oferecendo flexibilidade para projetos futuros. O segmento de embalagens segue em expansão, com ganho de participação e preços acima da inflação nos últimos sete anos. A companhia já alcançou 23% do mercado de papelão ondulado e vê 2025 como mais um ano de volumes elevados.

O Itaú BBA afirmam que a Suzano mantém o foco na competitividade e geração de valor após a entrega do Projeto Cerrado. A empresa, segundo a administração, busca ampliar sua vantagem de custos na produção de celulose de fibra curta, com medidas que envolvem desde a gestão florestal, reduzindo a dependência de madeira de terceiros, até melhorias industriais e cortes em despesas administrativas.

A unidade de Ribas, considerada a mais eficiente do mundo, é parte central dessa estratégia. A meta é reduzir o custo total por tonelada de R$ 2.200 para R$ 1.900 até 2027, o que pode liberar mais de US$ 800 milhões por ano em caixa.

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Outro ponto estratégico é a substituição da fibra longa por celulose de fibra curta em mercados como papel tissue, que representa boa parte das vendas. A Suzano estima que até 8 milhões de toneladas de softwood podem migrar para hardwood ao longo dos anos, especialmente na Europa e nos Estados Unidos. Para isso, a empresa trabalha com clientes em três frentes: substituição direta, ajustes técnicos e desenvolvimento de novos processos.

Disciplina

Já a CBA destacou avanços no segmento de downstream (etapa final da cadeia produtiva, mais próxima do consumidor, onde os produtos são processados, refinados, transformados e comercializados) e eficiência operacional. A administração da empresa reafirmou o foco em contratos de energia de longo prazo como uma das principais alavancas para redução de custos.

O Itaú BBA ressaltou que, mesmo com um ambiente mais difícil para o preço do alumínio, a CBA conseguiu manter margens estáveis por meio da disciplina operacional. A estratégia de autossuficiência energética, aliada a melhorias na linha de produtos de maior valor agregado, sustenta uma trajetória de ganhos de produtividade. A empresa também busca reforçar a integração entre mineração, refino e produção de alumínio primário.

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