dados de abril afastam recessão abrupta nos EUA, dizem analistas

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O número de novas vagas de trabalho nos Estados Unidos em abril superou as expectativas dos economistas e afastou os sinais de recessão da economia americana. Os dados do Payroll, divulgados nesta sexta-feira (2), mostram 177 mil novas vagas fora do setor agrícola. O resultado veio um pouco abaixo do número de março, que foi revisado para 185 mil, mas ainda assim acima do esperado, que era algo em torno de 130 a 140 mil.

Os números de abril, no entanto, ainda não refletem totalmente a política tarifária de Trump, anunciada no início daquele mês, e trazem sinais de cautela, de acordo com os analistas.

Alta em diversos setores

A alta foi sentida em diversos setores, analisa Isadora Junqueira, economista da AZ Quest. Apesar das recentes demissões traçadas pela administração de Donald Trump, ainda assim o setor público registrou 10 mil vagas a mais em abril. “Esperava-se algo entre zero e números negativos, mas veio este dado”, afirma Junqueira.

Outros setores de destaque foram educação e saúde, que juntos somaram 70 mil vagas a mais, um processo que reflete a recuperação após a pandemia, na análise da economista da Az Quest.

Desemprego estável

André Valério, economista sênior do Inter, afirma que os dados elevam a média móvel de 3 meses para um acréscimo mensal de 150 mil empregos. Esses números colocam a taxa de desemprego estável, em 4,2%. Houve também aumento na taxa de participação, destaca Valério, que alcançou 62,6%, o maior valor desde setembro.

Por outro lado, Valério pondera que os salários não avançaram no mesmo ritmo, crescendo 0,2% ao mês, o que mantém um crescimento de 3,8% no acumulado dos últimos 12 meses.

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“É um resultado robusto que mostra que o mercado de trabalho ainda não mostra sinais de recessão, apesar do resultado negativo do PIB no 1º trimestre”, diz.

Sinais de cautela

Houve revisão nos dados dos últimos dois meses, retirando 58 mil empregos. Valério destaca que, além disso, o ajuste estatístico para o nascimento e morte de firmas deu um acréscimo líquido de quase 400 mil empregos.

O economista do Inter diz que é possível haver correção nas próximas leituras sobre o resultado divulgado de hoje. “A tendência sugere que essa correção seria para baixo”, afirma.

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“De todo modo, não havia expectativa de que o caos tarifário fosse se manifestar nesse relatório. Se houver algum impacto, esperamos que ele seja notável a partir do mês de maio, portanto, a próxima leitura pode nos dar maiores informações sobre a dinâmica futura do mercado de trabalho”, diz Valério.

Na análise de Junqueira, os dados mostram que há alguns sinais de desaceleração, ainda que não sejam abruptos. “A taxa de desemprego saiu de 4,15% para 4,19%, uma alta marginal que, na média ainda fica em 4,2%. Ainda é uma economia com mercado de trabalho sólido, que não está desacelerando abruptamente”, diz.

Política de juros

Para Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, os dados mostram que o mercado de trabalho dos EUA segue sólido, o que deve pressionar os preços, principalmente no setor de serviços. “Este cenário tende a impactar a inflação, que permanece acima da meta de 2%, reforçando nossa expectativa de que o Fed [Federal Reserve, o banco central americano] deve manter os juros estáveis na reunião da próxima semana”, avalia.

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Segundo Valério, do Inter, a incerteza tarifária ainda é alta para que o Fed assuma algum corte de juros. “A incerteza tarifária ainda é alta o suficiente para manter o Fed em estado de paralisia, apesar dos resultados favoráveis de inflação e emprego que, em outro contexto, poderia permitir a retomada do corte de juros”, afirma Valério.

Para ele, o Fed só retomará o ciclo de cortes se houver resolução total da incerteza tarifária, sem grandes impactos sobre a inflação. “Esse cenário parece menos provável, com o governo americano ainda não tendo anunciado nenhum acordo comercial e a China mantendo postura rígida para iniciar as negociações, exigindo primeiro a retirada total das tarifas de 145%”, analisa.

O outro cenário seria o Fed cortar os juros em resposta a uma eventual recessão. Para isso, seria preciso haver um enfraquecimento substancial do mercado de trabalho, que só se materializa no segundo semestre, com o Fed retomando o ciclo de cortes na reunião de setembro, de acordo com Valério.

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