A aprovação no mês passado pelo órgão regulador financeiro dos EUA de uma proposta da JBS para listar suas ações na Bolsa de Valores de Nova York tem atraído fortes críticas de grupos ambientalistas e de direitos dos animais, mas elogios de Wall Street.
Em várias declarações depois de 22 de abril, quando a JBS informou que a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) autorizou o plano da dupla listagem — que visa ampliar seu acesso a investidores e aproximar seu valuation ao de concorrentes –, lobbies ambientalistas e de direitos dos animais desencadearam uma campanha contra a operação.
Os ativistas citaram investigações criminais relacionadas a JBS ou seus controladores no Brasil e nos EUA, bem como preocupações com o desmatamento da Amazônia e o papel desproporcional da empresa como grande emissora global de gases de efeito estufa advindos de suas operações.
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“Dado o longo histórico de conduta ilegal e corrupta da empresa, é difícil ver como a SEC pode ter confiança de que a JBS não enganará os investidores norte-americanos”, disse Glenn Hurowitz, CEO da Mighty Earth, uma organização de defesa do clima com sede em Washington D.C., em um comunicado.
A JBS esteve envolvida em um escândalo de suborno em 2017, o qual abalou o cenário político e econômico do Brasil. Nos EUA, a empresa ou partes relacionadas foram multadas em milhões de dólares em 2020 por corrupção no Brasil e por suborno relacionado à sua aquisição em 2009 da Pilgrim’s Pride, outra importante empresa de carnes dos EUA.
Os legisladores dos EUA também externaram preocupações sobre a listagem e o histórico criminal e ambiental da JBS.
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A SEC não respondeu a vários pedidos de comentários.
A JBS disse acreditar que sua listagem nos EUA representa uma opção de investimento atraente e maiores oportunidades para agricultores e pecuaristas, funcionários, consumidores e as comunidades onde opera.
A empresa, que financiou parcialmente sua agressiva expansão global por meio da emissão de títulos negociados internacionalmente, ressaltou que há anos está sujeita às exigências do chamado U.S. Securities Exchange Act de 1934 e de outras leis federais relacionadas ao mercado de valores mobiliários dos EUA.
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A Global Witness, organização sediada em Londres que investiga os vínculos das indústrias com as mudanças climáticas, chamou a aprovação da SEC para a listagem de “um desastre” tanto para o planeta quanto para a população. Outros grupos alegaram que a JBS compra gado de áreas desmatadas da Amazônia.
Em uma declaração à Reuters, a JBS refutou tal alegação, citando uma “política rigorosa e de tolerância zero de aquisição de commodities agrícolas através de fortes medidas contra o desmatamento.”
Mas os ativistas climáticos não estão impressionados.
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“Permitir que ela seja listada na maior bolsa de valores do mundo — destravando vastas oportunidades de expansão e lucro — mostra as profundas falhas do sistema regulatório financeiro dos EUA”, disse a Global Witness.
AÇÕES COM SUPER VOTO
As ações da JBS subiram cerca de 24% este ano na Bolsa de Valores de São Paulo com a expectativa de que a SEC aprovaria a listagem nos EUA, algo que a empresa vem buscando de várias formas desde 2009. A empresa, maior processadora de carnes do mundo, anunciou a estrutura da atual proposta de listagem em julho de 2023.
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Para o banco BTG, o acesso a um grupo maior de investidores após a listagem nos EUA ofereceria à JBS “um poder de fogo sem precedentes para impulsionar o crescimento”.
O Citi e outros bancos têm dito repetidamente que a medida fechará uma lacuna de valuation com rivais, como a Tyson Foods.
De acordo com o plano, as ações do frigorífico serão listadas principalmente em Nova York por meio de uma empresa sediada na Holanda, mas os papéis também continuarão a ser negociados em São Paulo por meio de BDRs, que são certificados que representam ações de empresas estrangeiras negociadas no Brasil.
A JBS NV, a empresa holandesa criada para a dupla listagem, emitirá ações chamadas de Classe A e Classe B. As ações Classe B terão 10 vezes o poder de voto das ações Classe A, e somente as ações Classe A serão negociadas no mercado.
Todos os acionistas poderão converter as ações da Classe A em ações da Classe B até dezembro de 2026. Isso definirá o free float final da JBS na NYSE e a distribuição do poder de voto.
Em 23 de maio, uma assembleia extraordinária de acionistas da JBS votará o plano de dupla listagem. O segundo maior acionista da JBS, o BNDESPar, disse que se absteria de votar.
As ações da JBS poderiam começar a ser negociadas na NYSE já em junho.
Após a conclusão de todas as etapas, os acionistas controladores poderiam acabar com 85% do poder de voto em um cenário potencial, disse a Genial Investimentos, empresa de investimentos com sede em São Paulo.
A Global Witness disse que essa concentração de poder limitaria as oportunidades de os acionistas minoritários influenciarem a empresa em questões ambientais, sociais e de governança (ESG).